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Abismo salarial

O abismo salarial refere-se à diferença sistemática e persistente nos rendimentos médios entre diferentes grupos demográficos, como homens e mulheres, ou entre diferentes grupos raciais, para trabalho de igual valor ou qualificação.

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Definição

O abismo salarial, também conhecido como lacuna salarial ou gender pay gap (quando aplicado a gênero), descreve a disparidade na remuneração média entre diferentes grupos de trabalhadores. Esta diferença não se explica apenas por variações em educação, experiência ou horas trabalhadas, mas reflete fatores estruturais e discriminatórios presentes no mercado de trabalho. Ele pode ser analisado sob diversas perspectivas, como gênero, raça, etnia ou outras características sociais. A mensuração do abismo salarial pode ser feita de forma bruta, comparando a média salarial total entre grupos, ou de forma ajustada, que tenta controlar por variáveis como nível educacional, experiência e tipo de ocupação. Mesmo após esses ajustes, uma parcela significativa da diferença salarial frequentemente persiste, indicando a presença de discriminação ou vieses implícitos.

Como funciona

O abismo salarial opera através de uma combinação de fatores diretos e indiretos. Diretamente, pode haver discriminação salarial explícita, onde indivíduos recebem salários diferentes por realizar o mesmo trabalho ou trabalho de igual valor, com base em características como gênero ou raça. Indiretamente, o abismo é alimentado por fenômenos como a segregação ocupacional, onde certos grupos são concentrados em ocupações de menor prestígio e remuneração, e o "teto de vidro", que impede o avanço de mulheres e minorias a posições de liderança e maior salário. Além disso, a penalidade da maternidade, que afeta a trajetória profissional de mulheres após terem filhos, e a valorização desigual de habilidades e setores predominantemente femininos ou associados a grupos minoritários, contribuem para a manutenção e ampliação dessas disparidades. A negociação salarial, muitas vezes influenciada por vieses de gênero e raça, também pode perpetuar o abismo.

Exemplos

  • Mulheres recebendo, em média, um percentual menor do salário de homens para a mesma função e nível de experiência em uma empresa.
  • Trabalhadores negros recebendo salários inferiores a trabalhadores brancos com qualificações equivalentes no mesmo setor.
  • Setores predominantemente femininos, como enfermagem ou educação infantil, tendo salários médios mais baixos do que setores predominantemente masculinos, mesmo exigindo alta qualificação.

Quem é afetado

O abismo salarial afeta desproporcionalmente mulheres, pessoas negras, indígenas e outros grupos minorizados. Estes grupos frequentemente enfrentam barreiras sistêmicas que limitam seu acesso a posições bem remuneradas, promoções e aumentos salariais justos. As consequências se estendem para além do indivíduo, impactando a segurança financeira das famílias e contribuindo para a perpetuação da desigualdade social e econômica.

Por que é invisível

A invisibilidade do abismo salarial decorre de sua natureza multifacetada e da dificuldade em isolar a discriminação pura de outros fatores. Muitas vezes, as disparidades são justificadas por argumentos de "escolhas individuais" ou "diferenças de produtividade", que mascaram os vieses estruturais. A falta de transparência salarial nas empresas e a normalização de certas hierarquias sociais também contribuem para que o problema não seja plenamente reconhecido ou abordado. A complexidade de sua análise, que exige dados desagregados e métodos estatísticos robustos, também dificulta sua percepção imediata.

Efeitos

Os efeitos do abismo salarial são amplos e perversos. Em nível individual, resultam em menor poder aquisitivo, dificuldade de acumulação de riqueza, maior vulnerabilidade financeira e menor segurança na aposentadoria para os grupos afetados. Isso pode levar a um ciclo de pobreza intergeracional e a uma menor capacidade de investimento em educação e saúde. Em um nível macroeconômico, o abismo salarial representa uma perda de potencial produtivo e de consumo, prejudicando o crescimento econômico e a inovação. Socialmente, ele reforça estereótipos, aprofunda desigualdades e gera ressentimento, minando a coesão social. A persistência do abismo salarial é um indicador de que as sociedades ainda não alcançaram a equidade plena no mercado de trabalho.

Autores brasileiros

  • Heleieth Saffioti
  • Paula Fontoura

Autores estrangeiros

  • Gary Becker
  • Claudia Goldin

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