Antissemitismo
O antissemitismo é uma estrutura ideológica de hostilidade, preconceito e discriminação contra judeus, manifestando-se como ódio religioso, racial ou político, frequentemente articulado através de teorias da conspiração sobre dominação global.
Definição
O antissemitismo refere-se a uma percepção específica sobre os judeus, que pode se expressar como ódio a respeito dos mesmos. Retóricas e manifestações físicas de antissemitismo são direcionadas a indivíduos judeus e não judeus, e/ou às suas propriedades, às instituições da comunidade e instalações religiosas. Numa perspectiva crítica contemporânea, autores como Zygmunt Bauman e Hannah Arendt argumentam que o antissemitismo não é apenas um "preconceito arcaico", mas um elemento central da modernidade. Diferente do racismo colonial clássico, que tende a ver o outro como "inferior" ou "incivilizado", o antissemitismo moderno frequentemente opera vendo o judeu como "superpotente", "invisível" e "conspirador". É uma forma de racismo que soca para cima (no sentido de imaginar um poder oculto), servindo como uma explicação simplista e distorcida para as crises do capitalismo e da sociedade global.
Como funciona
O antissemitismo funciona através da mutação constante. Na Idade Média, era religioso (o judeu como inimigo da fé); no século XIX e XX, tornou-se racial (o judeu como poluidor do sangue nacional); e no contemporâneo, muitas vezes se mascara de crítica política ou "anti-elitismo". O historiador Moishe Postone descreve isso como um "anticapitalismo fetichista": em vez de criticar as estruturas abstratas do capital, o antissemita projeta todas as falhas do sistema (bancos, globalização, mídia) numa figura concreta e personificada: "o judeu". O mecanismo central é a teoria da conspiração, onde judeus são acusados de lealdade dupla ou de manipular governos mundiais em detrimento das nações onde vivem.
Exemplos
- Discurso de ódio online: o uso de "dog whistles" (apitos de cachorro) e memes em redes sociais que utilizam caricaturas grotescas ou códigos numéricos (como 1488) para sinalizar ideologia neonazista sem ser imediatamente detectado por filtros de moderação.
- Negação ou distorção do Holocausto: tentar reescrever a história alegando que o genocídio nazista foi exagerado ou inventado, uma tática para reabilitar o nazismo e ferir a memória coletiva judaica.
- Responsabilização coletiva: exigir que um indivíduo judeu (seja na universidade, no trabalho ou na rua) responda ou peça desculpas pelas ações do Estado de Israel, conflitando a identidade judaica global com as políticas de um governo específico.
Quem é afetado
Afeta diretamente a população judaica em toda a sua diversidade (laicos, religiosos, sionistas, não-sionistas, brancos, negros). No entanto, o antissemitismo é frequentemente chamado de "o canário na mina de carvão": quando ele cresce, indica um colapso democrático mais amplo. Ele afeta a sociedade como um todo ao degradar o discurso público, promover a desinformação e servir de porta de entrada para outras formas de extremismo violento.
Por que é invisível
O antissemitismo muitas vezes é invisível em movimentos progressistas ou de justiça social porque os judeus, em muitos contextos ocidentais, são lidos como "brancos" e socialmente integrados ou economicamente estáveis. Isso cria uma dificuldade em enxergar o judeu como uma minoria vulnerável ou oprimida. A crença no "privilégio judaico" mascara a realidade de que os crimes de ódio contra judeus continuam sendo proporcionalmente os mais altos em diversas democracias ocidentais. Além disso, a linguagem antissemita moderna se apropria de termos de direitos humanos para inverter a lógica, apresentando o antissemita como a "vítima" de um suposto controle judaico.
Efeitos
Os efeitos incluem o medo constante e a necessidade de segurança reforçada em escolas e sinagogas. Psicologicamente, gera um estado de alerta permanente e a sensação de não pertencimento, mesmo em países onde as famílias vivem há gerações. Socialmente, leva ao isolamento da comunidade judaica e à erosão da verdade factual, uma vez que o antissemitismo depende fundamentalmente da mentira para sobreviver.
Autores brasileiros
- Michel Gherman
- Adriana Dias
- Luiz Nazario
- Michel Gherman
Autores estrangeiros
- Hannah Arendt
- Deborah Lipstadt
