Estigma de Jezabel
É uma forma de controle social e religioso que patologiza e demoniza a sexualidade feminina, especialmente quando esta se manifesta de forma autônoma ou desafia normas patriarcais.
Definição
O estigma de Jezabel refere-se à associação pejorativa da mulher com a figura bíblica de Jezabel, caracterizando-a como sedutora, manipuladora, promíscua e perigosa. Essa associação é frequentemente utilizada em contextos religiosos para desqualificar mulheres que exercem sua autonomia, especialmente em relação à sexualidade, liderança ou expressão pessoal. O termo serve como uma ferramenta de controle moral e social, visando a conformidade feminina a padrões patriarcais de comportamento. Este estigma não se limita a interpretações estritamente teológicas, mas se manifesta em discursos sociais e culturais que perpetuam a demonização da sexualidade feminina não controlada. Ele contribui para a construção de uma imagem negativa da mulher que não se encaixa em papéis tradicionais de submissão e pureza, gerando culpa, vergonha e marginalização.
Como funciona
O estigma de Jezabel opera através da internalização de narrativas religiosas e sociais que associam a mulher a características negativas atribuídas à figura bíblica. Mulheres que demonstram assertividade, liderança, ou que expressam sua sexualidade de forma livre são rotuladas, muitas vezes sutilmente, como "Jezabel", implicando que são perigosas, imorais ou uma ameaça à ordem estabelecida. Isso pode ocorrer por meio de sermões, comentários informais, ou até mesmo na forma como a vestimenta e o comportamento feminino são julgados. A funcionalidade desse estigma reside em sua capacidade de silenciar e disciplinar as mulheres. Ao temerem ser associadas a essa figura demonizada, muitas mulheres se autocensuram, evitam posar em posições de liderança ou reprimem sua sexualidade, buscando se adequar às expectativas de "boa mulher" dentro de comunidades religiosas e sociais conservadoras.
Exemplos
- Uma mulher que se veste de forma considerada "provocante" em um ambiente religioso é criticada e rotulada como "Jezabel" por membros da comunidade.
- Uma líder feminina em uma igreja que desafia a autoridade masculina é acusada de ser manipuladora e de ter um "espírito de Jezabel".
- Uma mulher divorciada que inicia um novo relacionamento é julgada e estigmatizada por sua comunidade religiosa, sendo comparada à figura de Jezabel.
Quem é afetado
Principalmente mulheres são afetadas pelo estigma de Jezabel, especialmente aquelas que vivem em contextos religiosos ou sociais com forte influência de interpretações patriarcais da feminilidade e da sexualidade. Mulheres que buscam autonomia, liderança, ou que expressam sua sexualidade de forma não convencional são as mais vulneráveis a serem alvo dessa rotulagem pejorativa. Este estigma contribui para a manutenção de desigualdades de gênero e para a restrição da liberdade feminina.
Por que é invisível
A invisibilidade do estigma de Jezabel reside na sua naturalização dentro de discursos religiosos e culturais que o veiculam como uma verdade moral ou espiritual, e não como uma construção social de controle. Muitas vezes, as acusações são veladas ou implícitas, manifestando-se em julgamentos morais e sociais que não são explicitamente nomeados como "estigma de Jezabel", mas que carregam o mesmo peso simbólico. A dificuldade em questionar narrativas religiosas tidas como sagradas também contribui para sua invisibilidade e perpetuação.
Efeitos
Os efeitos do estigma de Jezabel são profundos e abrangem diversas esferas da vida da mulher. Em nível psicológico, pode levar à baixa autoestima, culpa, vergonha, ansiedade e depressão, pois a mulher internaliza a ideia de que sua sexualidade ou sua busca por autonomia é pecaminosa ou perigosa. Socialmente, resulta em isolamento, marginalização e exclusão de comunidades religiosas e sociais.
Autores brasileiros
- Sueli Carneiro
- Lélia Gonzalez
Autores estrangeiros
- Patricia Hill Collins
