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Síndrome da Smurfette

Um fenômeno narrativo onde uma única personagem feminina é incluída em um grupo predominantemente masculino, servindo principalmente para representar o gênero feminino em sua totalidade, limitando a diversidade e complexidade da representação feminina.

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Definição

A síndrome da Smurfette, cunhada pela ensaísta Katha Pollitt, refere-se a um padrão comum em narrativas de ficção onde um elenco de personagens masculinos diversos e multifacetados é acompanhado por uma única personagem feminina, cuja principal função é ser "a mulher" do grupo. Esta personagem feminina é frequentemente definida por sua feminilidade e serve como um contraponto ou interesse romântico para os personagens masculinos, em vez de possuir uma agência ou complexidade independente. Este tropo narrativo reflete e perpetua a sub-representação e a homogeneização das mulheres na mídia. Ao apresentar apenas uma mulher em um grupo, a narrativa sugere que a experiência feminina é monolítica e que a diversidade de personalidades e papéis é exclusiva do gênero masculino. Isso limita a identificação do público feminino e reforça estereótipos de gênero.

Como funciona

O mecanismo da síndrome da Smurfette opera pela economia de representação. Em vez de desenvolver múltiplas personagens femininas com diferentes personalidades, profissões e arcos narrativos, os criadores de conteúdo optam por uma única figura feminina que deve carregar o peso da representação de todo um gênero. Essa personagem é frequentemente caracterizada por traços estereotipados de feminilidade, como ser emocional, cuidadora ou um objeto de desejo, em contraste com a variedade de papéis masculinos (o líder, o engraçado, o inteligente, o forte). Essa dinâmica impede o desenvolvimento de relações complexas entre mulheres na narrativa e restringe a exploração de diversas perspectivas femininas. A personagem feminina única muitas vezes existe em função dos personagens masculinos, seja como motivadora de suas ações, objeto de seu afeto ou como um elemento que destaca a masculinidade dos outros membros do grupo.

Exemplos

  • A Smurfette em "Os Smurfs", a única mulher entre dezenas de Smurfs masculinos, cada um com uma característica distinta.
  • Princesa Leia em "Star Wars: Uma Nova Esperança", a única mulher com papel significativo no trio principal, servindo como interesse romântico e figura a ser resgatada.
  • Miss Piggy em "Os Muppets", frequentemente a única personagem feminina proeminente em um elenco vasto de personagens masculinos.

Quem é afetado

A síndrome da Smurfette afeta principalmente o público feminino, que tem suas experiências e identidades sub-representadas ou estereotipadas na mídia. Crianças e adolescentes, em particular, podem internalizar a ideia de que há um número limitado de papéis ou personalidades aceitáveis para mulheres, ou que a presença feminina é sempre secundária à masculina. Além disso, a perpetuação desse tropo contribui para a invisibilidade de mulheres em posições de liderança e agência, tanto na ficção quanto na realidade.

Por que é invisível

A invisibilidade da síndrome da Smurfette reside na sua normalização. Por ser um padrão narrativo tão comum e arraigado na cultura popular, muitas vezes passa despercebido como uma escolha criativa "natural" ou inofensiva. A ausência de múltiplas personagens femininas não é questionada porque a presença de "uma" mulher é considerada suficiente para preencher a cota de representação de gênero. A crítica a esse tropo exige uma análise mais profunda das estruturas narrativas e dos vieses implícitos na criação de conteúdo.

Efeitos

Os efeitos da síndrome da Smurfette são amplos e impactam a percepção de gênero na sociedade. Ela reforça a ideia de que a experiência masculina é a norma universal e que a feminina é uma exceção ou um desvio. Isso pode levar à internalização de estereótipos por parte das mulheres e à dificuldade de imaginar-se em papéis diversos e complexos.

Autores brasileiros

  • Valeska Zanello

Autores estrangeiros

  • Katha Pollitt
  • Luce Irigaray

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