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Xenofobia

A aversão, hostilidade, repúdio ou ódio irracional a estrangeiros ou a tudo que é percebido como "estranho" à cultura local. Embora o termo geralmente se refira a conflitos entre nações,

Definição

Etimologicamente vindo do grego xenos (estranho) e phobos (medo), a xenofobia não é apenas um "medo", mas uma ideologia de exclusão. Ela opera sob a lógica de que "o outro" representa uma ameaça à identidade, à economia ou à segurança do grupo dominante. No contexto brasileiro, a definição se expande para o preconceito de origem. Sociólogos apontam que a xenofobia contra nordestinos funciona como um "racismo disfarçado", pois a região Nordeste é historicamente associada à mestiçagem, à cultura negra e indígena e à pobreza, enquanto o Sul/Sudeste se constrói sobre um imaginário de branquitude, trabalho e progresso europeu. Portanto, rejeitar o nordestino é, frequentemente, uma forma de rejeitar a herança não-branca do Brasil.

Como funciona

A xenofobia funciona através da criação de estereótipos que desumanizam o migrante. No Brasil, isso ocorre pela construção da dicotomia "Nós" (Sul/Sudeste = trabalhadores, modernos, politizados) versus "Eles" (Nordestinos = preguiçosos, atrasados, "currais eleitorais"). O mecanismo central é a inferiorização intelectual e cultural. O sotaque nordestino é estigmatizado como "feio" ou "engraçado", e a cultura local é reduzida a caricaturas. Em momentos de crise econômica ou tensão política (como eleições), o xenófobo culpa o migrante pelos problemas do país ("eles não sabem votar") ou pela falta de empregos, utilizando discursos de ódio nas redes sociais que sugerem a separação do país ou a retirada de direitos.

Exemplos

  • Ataques pós-eleições: a onda cíclica de ódio nas redes sociais após resultados eleitorais, onde habitantes do Sul/Sudeste sugerem "cortar verbas", "construir muros" ou desejam a morte de nordestinos por fome/seca, alegando que o voto da região "atrasa o Brasil".
  • O uso de gentílicos como insulto: em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, o uso pejorativo de termos como "baiano", "paraíba" ou "cabeça-chata" para designar qualquer pessoa do Nordeste, associando-os a serviços braçais, imperícia no trânsito ou breguice.
  • Discriminação no Trabalho: a exigência velada de "neutralização do sotaque" para cargos de liderança ou atendimento ao público no Sudeste, sob a premissa de que o sotaque nordestino não passa "credibilidade" ou "profissionalismo".
  • Xenofobia contra Imigrantes Internacionais: a hostilidade contra venezuelanos em Roraima ou haitianos e bolivianos em São Paulo, que são frequentemente explorados em condições análogas à escravidão e acusados de "roubar empregos".

Quem é afetado

Internamente, afeta massivamente nordestinos e nortistas que migram para outras regiões, bem como seus descendentes. Externamente, afeta refugiados e imigrantes do Sul Global (latinos, africanos, árabes). Curiosamente, a xenofobia brasileira é seletiva: imigrantes europeus ou norte-americanos (o "estrangeiro rico") raramente sofrem essa hostilidade, sendo recebidos com hospitalidade (o chamado complexo de vira-lata), o que prova que a xenofobia tem recorte de classe e raça.

Por que é invisível

A xenofobia interna é invisível porque é naturalizada como "rivalidade regional", "piada" ou "opinião política". Muitos não a reconhecem como crime (embora seja, pela Lei nº 9.459/97), tratando ofensas graves como liberdade de expressão. Além disso, há um apagamento da contribuição econômica: as grandes metrópoles do Sudeste (como São Paulo e Brasília) foram construídas com mão de obra nordestina, mas a narrativa oficial apaga esses trabalhadores da história do sucesso econômico dessas cidades, mantendo-os visíveis apenas na pobreza das periferias.

Efeitos

Gera a segregação espacial (a formação de favelas como locais de moradia dos migrantes), exploração econômica e violência física. No nível subjetivo, causa a negação da identidade: muitos migrantes tentam esconder suas origens, mudam a forma de falar e cortam laços com sua cultura para serem aceitos socialmente, vivendo em um estado permanente de tensão e não-pertencimento.

Autores brasileiros

  • Janaina Damaceno
  • Marcos Bagno
  • Rosana Baeninger
  • Durval Muniz de Albuquerque Jr.

Autores estrangeiros

  • Zygmunt Bauman
  • Hannah Arendt
  • Abdelmalek Sayad
  • Seyla Benhabib

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