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Aporofobia

O medo, rejeição ou aversão às pessoas pobres e à pobreza. Diferente da xenofobia (medo de estrangeiros), a aporofobia revela que a hostilidade não é contra o "outro" geográfico, mas contra aquele que não tem recursos econômicos para participar do ciclo de consumo e troca.

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Definição

O termo, cunhado pela filósofa espanhola Adela Cortina nos anos 90, deriva do grego á-poros (pobre, sem recursos) e fobos (medo). Define-se como uma patologia social que leva à marginalização daqueles que, na lógica capitalista, parecem não ter nada a oferecer em troca. Numa perspectiva crítica contemporânea, a aporofobia desmonta a hipocrisia de sociedades que se dizem "abertas". Como aponta Cortina, ninguém rejeita um xeque árabe ou um jogador de futebol estrangeiro rico; a porta se fecha apenas para o imigrante pobre. No Brasil, o conceito dialoga com o que Jessé Souza chama de "ódio ao pobre", uma característica estrutural da elite e da classe média que criminalizam a pobreza para justificar sua própria posição de privilégio.

Como funciona

A aporofobia funciona através da desumanização baseada no valor de troca. Numa sociedade contratualista, onde as relações são pautadas pelo "dou para que dês", o pobre é visto como um "falho", um "parasita" ou um estorvo inútil. Institucionalmente, ela se manifesta na Arquitetura Hostil: o planejamento urbano que instala pedras pontiagudas, divisórias em bancos de praça e jatos de água para impedir que pessoas em situação de rua descansem. Juridicamente, opera através da criminalização da sobrevivência, como leis que proíbem pedir esmola ou catar material reciclável, tratando problemas sociais como questões de polícia.

Exemplos

  • Turismo vs. migração: um turista europeu que quebra regras é visto como "excêntrico"; um imigrante pobre do mesmo país é visto como "ilegal" ou "ameaça".
  • Tratamento no consumo: a diferença brutal de atendimento em uma loja ou banco dependendo da vestimenta e da aparência de poder aquisitivo do cliente (o "efeito Pretty Woman").
  • Higienismo social: operações municipais que recolhem pertences de moradores de rua (cobertores, documentos) sob a justificativa de "limpeza urbana", apagando os vestígios da pobreza para não "incomodar o olhar" dos transeuntes.

Quem é afetado

Afeta primariamente pessoas em situação de rua, moradores de favelas, imigrantes refugiados e desempregados de longa duração. No entanto, afeta a sociedade como um todo, pois a aporofobia corrói a empatia e a solidariedade, transformando a convivência urbana em um estado de guerra fria contra os vulneráveis.

Por que é invisível

A aporofobia permaneceu invisível por muito tempo porque não tinha nome. Sem um conceito específico, ela era frequentemente confundida com racismo ou xenofobia. Além disso, é invisível porque é naturalizada pela ideologia da meritocracia: se acreditamos que todos têm o que merecem, a pobreza passa a ser vista como culpa do indivíduo (preguiça, vício, fracasso moral), legitimando o desprezo que sentimos por ele em vez de despertar compaixão.

Efeitos

Os efeitos vão desde a exclusão espacial (guetos, condomínios fechados) até a violência física direta (como o caso do índio Galdino, queimado vivo em Brasília por ser confundido com um mendigo). Psicologicamente, a aporofobia destrói a autoestima do pobre, que passa a internalizar a vergonha de sua condição, anulando sua capacidade de reivindicar direitos políticos.

Autores brasileiros

  • Padre Júlio Lancellotti
  • Jessé Souza

Autores estrangeiros

  • Adela Cortina
  • Zygmunt Bauman
  • Loïc Wacquant

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