Machismo
Sistema de dominação que sustenta a superioridade do homem sobre a mulher, manifestando-se através de privilégios masculinos e da opressão das mulheres em esferas sociais e econômicas. Crenças, atitudes e comportamentos que rejeitam e se opõem à igualdade de direitos e deveres entre os gêneros, favorecendo o gênero masculino em detrimento do feminino através da naturalização de uma suposta superioridade do homem.
Definição
Diferente de um simples comportamento individual, o machismo é a expressão subjetiva e prática do Patriarcado, um sistema histórico de organização social baseado na dominação dos homens sobre as mulheres. Ele se manifesta como uma ideologia que legitima o poder masculino nas esferas pública e privada, reduzindo a mulher a uma posição de submissão e objeto. Sob a ótica sociológica, o machismo não é apenas "cultura", mas uma ferramenta de manutenção de bases materiais e políticas. Ele define papéis sociais distintos, onde o valor do masculino é sempre prevalente, justificando a exploração do trabalho feminino e a apropriação dos seus corpos sob o pretexto de uma ordem "natural" das coisas.
Como funciona
O machismo funciona por meio de um incessante trabalho de reprodução coletiva que "arranca" a dominação masculina da história, transformando uma construção social em um fato biológico imutável. Ele se estabelece no inconsciente dos indivíduos através do habitus, onde a divisão entre masculino e feminino parece estar na ordem natural do mundo. Esse sistema cria corpos generificados dos quais ele precisa para se manter, tratando o corpo feminino como um combustível ou recurso para o funcionamento do sistema capitalista e patriarcal. A linguagem e as instituições ratificam simbolicamente essa superioridade, dispensando justificativas explícitas por apresentar a visão de mundo masculina como neutra e universal. Além disso, o funcionamento do machismo depende da cumplicidade masculina e da socialização precoce, onde meninos são educados para comportamentos de controle e meninas para a obediência na esfera doméstica. Esse processo é sustentado pela misoginia — o ódio ou desprezo pelo feminino — que atua como uma tecnologia política para punir qualquer transgressão à norma patriarcal. A dominação é tão sofisticada que se manifesta como uma violência simbólica, na qual as próprias mulheres podem internalizar sua condição de inferioridade, vendo as aptidões masculinas como justificativas para a posição de poder que os homens ocupam.
Exemplos
- Divisão sexual do trabalho: a atribuição exclusiva ou majoritária das tarefas domésticas e do cuidado com os filhos às mulheres, mesmo quando estas trabalham fora, tratando essa carga como um "dever natural".
- Disparidade salarial: o pagamento de salários menores a mulheres que ocupam os mesmos cargos que homens, baseando-se na ideia de que o homem é o "provedor principal" e a mulher uma "auxiliar".
- Objetificação feminina: o tratamento de mulheres como objetos para satisfação sexual ou lucro, negando sua autonomia sobre o próprio corpo e suas escolhas.
- Mansplaining e Manterrupting: atitudes em que homens explicam algo óbvio a uma mulher como se ela fosse incapaz de entender, ou a interrompem constantemente em falas públicas e privadas.
Quem é afetado
As principais vítimas são as mulheres (cis e trans) e as crianças, que sofrem as formas mais diretas de violência física, psicológica e patrimonial. A mulher negra é duplamente afetada, pois o machismo se cruza com o racismo, destituindo-a de poder em uma ordem de classe e raça que cultua a branquitude. Os homens também são afetados, pois o patriarcado lhes impõe normas rígidas de masculinidade hegemônica que reprimem emoções e incentivam comportamentos violentos para a afirmação de coragem.
Por que é invisível
O machismo é invisível porque é naturalizado como "tradição", "religião" ou "natureza humana". Ele está enraizado no senso comum de tal forma que comportamentos opressores são vistos como proteção ou "jeito de homem". Além disso, a violência simbólica faz com que a dominação não precise de força física constante para ser aceita, operando silenciosamente através das piadas (racismo/machismo recreativo) e da normalização da desigualdade nos espaços de poder.
Efeitos
Os efeitos variam desde a morte (feminicídio) até a destruição da saúde mental e autonomia feminina. Gera um ciclo de pobreza feminina (feminização da pobreza) devido à exclusão econômica e à desvalorização do trabalho doméstico. Socialmente, perpetua um modelo de sociedade violenta e conservadora que limita o desenvolvimento pleno de todos os sujeitos que fogem à norma patriarcal.
Autores brasileiros
- Heleieth Saffioti
- Sueli Carneiro
- Marcia Tiburi
Autores estrangeiros
- Simone de Beauvoir
- Bell Hooks
- Rita Segato
