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Violência geracional

A violência geracional refere-se a agressões, abusos, negligências e opressões que ocorrem baseadas na hierarquia de idade e poder dentro de uma sociedade ou família. Ela se manifesta em duas direções principais: do adulto contra a criança/adolescente (Adultocentrismo) e do adulto jovem contra o idoso (Etarismo/Velhofobia).

adultocentrismoetarismoviolência patrimonial

Definição

Não se trata apenas de conflito de gerações (divergência de opiniões), mas de uma relação de dominação. É a imposição de poder de um grupo etário considerado "produtivo e capaz" sobre grupos considerados "dependentes ou incompletos". No Brasil, a violência geracional é estrutural. Contra crianças, baseia-se na crença de que os filhos são "propriedade" dos pais, legitimando castigos físicos como método educativo. Contra idosos, baseia-se na ideia de que a pessoa que perdeu sua capacidade produtiva de trabalho torna-se um "peso" social ou familiar, descartável ou passível de tutela forçada.

Como funciona

Adultocentrismo (contra jovens): o mundo é desenhado por e para adultos. A criança não é vista como sujeito de direitos, mas como um "vir a ser". Seus sentimentos são minimizados ("é manha", "é fase") e sua integridade física é violada sob o pretexto de "educação" (a pedagogia da dor). Patrimonialismo e negligência (contra idosos): ocorre a inversão do cuidado. O idoso é infantilizado (tratado como criança teimosa). Funciona muito através da violência patrimonial, onde familiares se apropriam da aposentadoria ou bens do idoso, muitas vezes através de empréstimos consignados forçados, deixando-o sem recursos para sobrevivência digna.

Exemplos

  • A "Lei da Palmada" ignorada: a resistência cultural no Brasil à Lei Menino Bernardo (2014), com muitos defendendo que "apanhar ensina caráter", perpetuando o ciclo de que a violência é uma forma válida de amor e correção.
  • Violência financeira contra idosos: filhos ou netos que retêm o cartão do banco do idoso, controlam seu dinheiro e o ameaçam com abandono em asilos caso ele reclame.
  • Abuso sexual intrafamiliar: a forma mais perversa de violência geracional, onde a confiança e a autoridade do adulto (pai, tio, avô) são usadas para explorar o corpo da criança, garantindo o silêncio através do medo.
  • Isolamento social: trancar idosos em casa ou em quartos, privando-os de convívio social, ou proibir adolescentes de qualquer interação externa como forma de controle excessivo.

Quem é afetado

As vítimas diretas são crianças, adolescentes e idosos. Entretanto, há recortes cruciais: Gênero: meninas sofrem mais violência sexual; mulheres idosas sofrem mais negligência e violência patrimonial (frequentemente forçadas a cuidar da casa até a exaustão física). Raça: a juventude negra brasileira é a principal vítima da violência geracional de Estado (genocídio da juventude negra), onde a polícia atua como o "braço adulto e punitivo" da sociedade que vê o jovem negro como ameaça.

Por que é invisível

É invisível porque ocorre predominantemente no espaço doméstico, protegido pela privacidade do lar ("em briga de marido e mulher — e de pai e filho — não se mete a colher"). A violência contra a criança é naturalizada como "educação rigorosa". A violência contra o idoso é invisível porque a sociedade segrega a velhice; o idoso muitas vezes não tem voz pública, não domina a tecnologia para denunciar e teme denunciar os próprios filhos e ficar desamparado.

Efeitos

O principal efeito é a reprodução do ciclo da violência: crianças que aprendem que quem ama bate, tendem a se tornar adultos que batem em seus filhos ou parceiros, ou que abandonam seus pais na velhice. Gera traumas profundos, transtornos de ansiedade, depressão infantil e senil. No caso dos idosos, a violência acelera a morte (física ou social). Socialmente, cria uma cultura autoritária que não sabe resolver conflitos através do diálogo, apenas da imposição de força do "mais forte/velho" sobre o "mais fraco/novo".

Autores brasileiros

  • Lidia Weber
  • Vicente de Paula Faleiros

Autores estrangeiros

  • Robert Butler
  • Alice Miller

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